"Quando um trabalho é verdadeiro, há de acontecer algo,
não importa o tempo que leve. Acredito no sentimento, na composição, no poder
da música e no processo de causa e efeito das coisas. Hoje me sinto mais forte
e capaz de tocar minha lida. E se não for do jeito que sempre fiz, não vai ser
eu".
É com a confiança conquistada com
muito trabalho e fortes emoções nos últimos anos, que Paula Fernandes se
prepara para um importante momento de sua carreira. "Meus encantos",
seu sétimo CD, revela a Paula de hoje, completa, trazendo em cada uma das 15
canções um pedacinho da menina-mulher que o Brasil descobriu – e que não
imagina o que ela guarda dentro de si.
Todas as músicas são inéditas.
Algumas escritas recentemente, outras guardadas a dois, três, cinco anos; mas
nada soa distante do universo que Paula vem apresentando em seus discos
anteriores. Todas as mensagens fazem sentido para ela, pois "há músicas
que fazem parte do fluxo da vida". "Algumas canções são novinhas,
outras não envelhecem ou aguardavam seu momento de reaparecer. Há sentimentos
que duram vidas e vidas e eles estão aqui", explica.
Os temas abordados, parte do
universo criativo de Paula, expressam sentimentos profundos de amor e amizade,
o cotidiano das pessoas, a ligação com a terra e com o universo. "Meu
trabalho é intuitivo e não me omito do processo criativo. Não vou rotular,
frear ou bloquear qualquer inspiração ou gênero musical que apareça neste
momento de criação. As músicas acabam sendo parecidas porque vêm da mesma
fonte, mas se diferenciam bem nos detalhes. As pessoas verão isso",
explica.
Por isso o nascimento de
"Meus encantos" foi natural, algo que foi crescendo ao longo da
última turnê. Paula e seu produtor musical, Márcio Monteiro, primaram pelos
detalhes, arranjos e melodias sem se afastar da essência e buscando uma novidade
no som. "Não encaro como ousadia porque não houve nenhuma tentativa de
confronto musical. Apenas me permiti em alguns momentos experimentar mais. Me
deixei brotar e tudo fluiu". A faixa que dá nome ao disco exemplifica
isso. "Ela tem toques eletrônicos que trazem um novo ar mas não interferem
na leveza da canção. O arranjo é mais espacial e a letra é mais aterrada",
sugere. Irmã gêmea de nascimento de "Meus encantos (Nunca só)",
"Cuidar de mim", abertura do disco, revela a coragem e o peito aberto
da cantora. Assim como sua personagem, Paula usa de garra e serenidade para
tomar decisões e viver sem pudor de expor seus sentimentos.
De fato, as emoções movem a
engrenagem do trabalho de Paula Fernandes. Através das músicas, ela descobriu
desde nova que poderia sofrer, chorar ou sorrir. "Cantar o sentimento da
forma mais simples é mágico para mim". A frase com toque singelo ganha
estatura de gigante quando se ouve músicas como "Eu sem você", que
rapidamente tomou o topo das paradas de rádio e vendas digitais em seu
lançamento, a orquestral "Além da vida" ou ainda "Nunca mais eu
e você", com clima mais noir, que fala abertamente do sentimento exposto.
"Esta música tem uma cor roxa para mim. Fala de algo forte, quando se é
capaz de assumir uma perda ou encarar o ciúme, coisas que fazem parte da
vida".
O trabalho de Paula não segue
apenas caminhos densos. Também refletem a luz do sol, o correr das águas e a
alegria da vida do interior. "Mineirinha ferveu" e "Barco de
papel" apontam para o ar. Leveza, alegria e um certo tom infantil pairam
na vibração das músicas. "Elas cultivam um pouco minha aura menina-mulher.
Me tornei quase que uma representante da vida no campo", diz. A letra de
"Mineirinha...", escrita por Zezé Di Camargo e salpicada por Paula,
traz um ar divertido para o disco. Assumindo a brejeirice, ela se permite ser
boneca. Em um desabrochar contagiante dos versos do goiano e da sanfona de
Sérgio Saraiva, Paula brinca sem vergonha e resgata o tempo perdido.
"Adoro esta canção, mexer as cadeiras, sorrir, é uma musica que ferve;
fala da vivência do interior, é solar e mostra a transformação de menina em
mulher". Já a romântica "Barco de papel", com um ar mais retrô,
leva as amigas para as pistas de dança. "Ela tem um lado mais infantil. Se
fosse numa peça, penso na personagem ilhada num mar formado por suas lágrimas a
espera do príncipe. Mas ela é alegre e tem um ritmo e dancinha que me divirto
muito", ri.
A levada mais dançante também
marca "Se o coração viajar", música da safra antiga que quase foi
parar na voz de outros artistas, mas resgatada a tempo pela cantora. "Aos
olhos do tempo", dona de uma pegada mais pop rock e refrão pra cantar
junto, é mais uma da família elétrica de Paula, porém com linhas e entrelinhas
menos entusiasmadas, digamos assim. "Fazer uma música com balanço e
movimento mas com letra profunda foi uma conquista para mim. Não é porque é
animada que tem que ter letra vazia ou superficial", diz Paula. Seguindo o
ritmo pra cima mas voltando aos encontros e desencontros amorosos, "Na
contramão" é acompanhada por uma forte presença do violão, e nasceu
inteira de uma só vez, quando ela viajava de férias. "Fiquei ansiosa
porque não tinha um violão na hora, mas não pude conter a letra, que é bem
explícita".
Paula Fernandes é assim. Intensa.
Sem melodramas, ela sempre foi uma menina, adolescente e mulher muito afetiva,
romântica, sonhadora. "Por mais que eu lide com a realidade, minha vontade
é sempre expressar o que está mais dentro – O sorriso, a pureza ou até mesmo o
amor, que é algo que não se explica com palavras". Foi desta busca que
nasceu "Versos de amor", uma canção com cara de folk antigo,
inspirada nos Eagles, com versos dilacerados tecidos sobre a dor.
O álbum "Meus encantos"
tem apenas uma participação especial. O violão da introdução já indica o
parceiro. Zé Ramalho, poeta e cancioneiro de outros sertões, percorre de mãos
dadas com Paula a perfeita "Harmonia do amor". "O Zé é uma
pessoa muito especial para mim. Sempre fui fã de suas músicas e, quando nos
conhecemos nos bastidores de um programa de tevê, falei que adoraria compor
algo juntos. Ele topou na hora, trocamos contatos e logo ele me mandou essa
letra. Fiz a música, o convidei para cantar comigo e o resultado é esse
belezura de canção. Tenho muito orgulho dessa parceria. Agora tem uma letra
minha com ele", avisa Paula. Continuando nas entranhas da terra, "Céu
vermelho" enraíza o trabalho de Paula Fernandes e pede a bênção para
continuar. "É minha canção velha, com viola, violão, sanfona, muito
delicada. Estava a fim de fazer uma canção antiga, mas ao invés de regravar um
sucesso clássico, resolvi escrever minha própria modinha em forma de toada. É
meu xodó", diz.
Os duetos que foram incluídos
como faixas bônus no disco são frutos de experiências vitoriosas recentes: o
sucesso "Long live", com a vencedora do Grammy Taylor Swift, e a
encantadora "Hoy me voy", ao lado do popstar latino Juanes. Em ambas,
Paula escreveu sua versão da letra em português. Os cabelos anelados e o estilo
country não são as únicas semelhanças entre Paula e Taylor. Cantoras e
compositoras donas de seu próprio nariz, repertório, num misto de delicadeza e
atitude, as duas conduzem suas carreiras com cuidado e bastante aproximação com
o público. "Sempre gostei do trabalho da Taylor e esta parceria foi um acontecimento
na minha vida; ela é muito cuidadosa e prudente e até difícil topar duetos.
Fiquei muito satisfeita com o resultado porque mexer numa música que já era
completa era um desafio, e melhor ainda foi saber que ela adorou a versão
final", diz.
Os versos em português de
"Hoy me voy" também saíram de uma tacada só. O encontro com Juanes em
Miami durante a gravação do MTV Unplugged do artista é algo que vai ficar
marcado para sempre na memória da brasileira. "Ele é uma das pessoas mais
lindas que já conheci. Simples, humilde, até estranhei sua timidez diante do
fenômeno que ele é no mundo. A música me encantou de cara e aquela gravação num
país diferente foi um momento inesquecível para mim".
Artista que começou cedo – aos 8
anos descobriu a paixão pelo canto e aos 12 a composição –, Paula Fernandes
sempre esteve ligada à música e ao palco. Ainda menina em Sete Lagoas, região
mineira aos pés da Serra do Cipó, e depois em Belo Horizonte e São Paulo, onde
se aventurou em busca do sonho de cantar, ela sempre buscou este momento de
realização, de viver de seu dom, sua música. Explicar o que significa este
momento 'cheio de encantos' é tão complexo quanto querer transcrever sua
inspiração. "Música para mim é uma fórmula química. Não é uma mensagem
quadrada; ela envolve sutilmente. O que faço flui de mim, sãos as verdades que
fui descobrindo com o tempo. Fico muito feliz em ver as pessoas se
identificando e o resultado que trouxe para nossas vidas".
"Meus encantos" chega
às lojas rodeado de expectativas após a marca histórica de 1,7 milhões de
cópias vendidas de seu antecessor, o CD e DVD "Paula Fernandes Ao
Vivo". A cantora, porém, procura não se deixar afetar pelas cobranças. É
um momento de continuidade. De levar adiante tudo que plantou e colheu com suas
inspirações mais íntimas e trabalho árduo. "Não consigo ver a música como
um produto comercial, não cultivo isso. Estou sempre envolvida em meu universo
poético e não me conecto com as coisas superficiais. A arte me envolve e quanto
menos eu racionalizar melhor. Não vou me cansar de criar. Construir algo útil
para o mundo é a essência de tudo". E é assim que Paula mostra seu novo
trabalho. Sem inventar nada, ela se concentra apenas em ser – e emocionar, seu
grande dom.